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Quando o mundo volta para sua vida

por Fernanda

Eu sabia que esse dia iria chegar. Na verdade, ele já chegou várias vezes. Às vezes de forma tímida, às vezes sem querer ir embora, porém, especialmente depois da volta ao mundo, ele voltou e para incomodar.

Se já é impossível não sofrer após uma viagem de férias, imagina não sofrer após uma viagem de férias que durou mais de um ano? Eu sabia que a hora que voltasse para a rotina, as coisas começariam a desandar. Mas foi essa a decisão que tomei. Decidi comprar um apartamento, decidi construir um patrimônio, decidi levar a vida que todo mundo leva. Até aí, tudo bem. A rotina me mata? Com certeza. Mas antes fosse só isso.

E lá se foi o primeiro feriado na quinta e ser obrigada a trabalhar na sexta. E veio o segundo. Virá o terceiro, virá o quarto e sei lá mais quantos. Pior é que além da não disponibilidade de tempo, no momento também não tenho a disponibilidade financeira (principalmente por causa da compra do apartamento). As pessoas tentam me consolar: “ah, mas você já viajou tanto”. Pois é, já viajei muito e agradeço todos os dias por isso. Agradeço por todas as viagens que fiz, todas as viagens que me fizeram ser o que sou hoje. E eu sei que tive muitas oportunidades (não gosto da palavra sorte) e também sei que não posso reclamar. Mas ao mesmo tempo eu sei a dor que a falta de viagens causa na minha vida.

E essa dor tem me consumido. Mas felizmente a Copa trouxe um pouco do mundo para Curitiba e também para a minha vida. Sinceramente, fazia tempo que não me divertia tanto por aqui. E foi aí que percebi que posso continuar me enganando ou preciso tomar uma atitude para mudar de vida.

É complicado porque quando decidi entrar para o funcionalismo público dediquei muito tempo estudando. Tudo bem que não estou no órgão público que queria estar e para chegar lá vou ter que dedicar mais um bom tempo da minha vida estudando, mas passei a me questionar: será que é isso mesmo que quero para a minha vida? Ter estabilidade, mas ter que trabalhar todos os dias no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa até me aposentar?

Como a vida não é fácil, foi bem nessa época que propostas interessantes passaram a surgir via blog. Viagens que no momento não posso fazer pela falta de férias/feriados e ter que rejeitá-las me faz sofrer muito. Também fiquei pensando na vida fora daqui, em tudo que sinto falta. Para ser honesta, o que mais sinto falta é um sistema de férias mais justo em que você não precise trabalhar 12 meses para ter direito a 30 dias de férias.

Sei que isso tem me desgastado. Inclusive faz tempo que não consigo ter inspiração para escrever por aqui. Tomei minha decisão e espero não me arrepender, mas tenho ciência de que cada escolha gera uma ou algumas renúncias.

“Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”.  (Rubem Alves)

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25 comentários

Pablo 21 de julho de 2014 - 21:04

Muito boa sua postagem! Sou assim também, não curto me prender a tempo/espaço. Infelizmente temos que fazer algo na vida, mas acaba virando rotina. Meu sonho era ganhar dinheiro viajando. kkk

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Monica 21 de julho de 2014 - 21:10

Fernanda, adorei o post. Deu pra sentir em mim um engasgo na garganta e a vontade de dar a louca e largar o emprego, vender o apartamento e montar o negocio que eu vivo sonhando. Mas eu acho que a gente faz o que é melhor pra gente, mesmo com baixas de satisfação ou compreensão. Chato é aguentar a situação atual, se queremos mesmo outra coisa. Eu não curto o conformismo, por isso viver feliz onde estou. Bjos

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Fernanda 21 de julho de 2014 - 21:17

Pois é, eu também não curto o conformismo e tento ser feliz onde estou. Só que às vezes é necessário ajustar as velas e ir na direção certa.

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Ana Beatriz 22 de julho de 2014 - 09:42

Oi Fernanda! Curto seu blog pra caramba, e queria dizer que você foi uma das inspirações para eu ter largado meu emprego no serviço público, depois de quase oito anos (em que eu já tinha uma série de vantagens por tempo de serviço).
Viajar não é uma atividade, é um estilo de vida. Você vai sempre viajar. Seja nos seus 30 dias de férias (que dá para transformar em 40 juntando com feriados hehehe), seja numa licença, seja da forma que for!
A gente costuma fazer esse contraponto entre viajar e comprar um apartamento, mas a verdade é que a vida é cheia de surpresas, e com dedicação e paciência podemos fazer tudo.
E no fim das contas, como você mesma falou: se chegar a conclusão de que não é isso, mude novamente! Peça demissão, venda o apartamento e dê outra volta ao mundo!
Tudo de bom! Abração!

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Fernanda 22 de julho de 2014 - 17:35

Oi, Ana!
Que legal que você está indo fazer uma volta ao mundo. Pois é, quem sabe em breve eu encontre o rumo do mundo de volta. Who knows?

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bruna 22 de julho de 2014 - 12:25

Fernanda, amei o post!

Vou partir para a minha volta ao mundo em outubro, que terá a duração de um ano, e confesso que o único medo que eu sinto é o de voltar…. Sério, já estou sofrendo com isso e ainda nem fui! Ainda mais pq um dos motivos de eu estar indo viajar é a insatisfação com a minha vida do jeito que está no momento… e se nada mudar depois???

Deve ser também pq já fiz um intercâmbio longo, e a volta foi terrível, muito difícil de superar, e acredito que uma volta ao mundo, ainda mais nas condições que me encontro deva ser muito mais intensa, o que torna as coisas piores!

Bom, só queria dividir isso com vc, não nos conhecemos pessoalmente mas acredito que temos muito em comum, principalmente depois que li aquele seu post sobre coisas sobre vc.. então acho que vc entende pelo que estou passando, hahah!

Beijão!

Bruna

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Fernanda 22 de julho de 2014 - 17:22

Olha, eu nem voltaria. rs

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Gabi 22 de julho de 2014 - 14:58

Fernanda, eu sinto um pouco disso todos os dias. Todos os dias de manhã, eu chego no trabalho, leio meus e-mails, abro o Melhores Destinos e penso pra onde eu poderia ir não fossem todos os poréns da vida. As vezes você percebe que tem férias, ou que tem um feriado, $$ na conta, aproveita e vai. As vezes, você fica com vontade de enterrar a Bic mais próxima no pulso. E assim eu vou levando… Encontre mais que nunca os seus amigos, vá pros bares, compre uns bons drink e beba na sua sala nova pensando em como você decoraria ela se fosse tão rica quanto merece ser… é ridículo, eu sei. Mas comigo funciona, e quando você perceber, suas férias já vão estar dobrando a esquina.

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Fernanda 22 de julho de 2014 - 17:21

Eu não me mudei e ainda não tenho previsão. Está alugado ainda.

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janete clara 22 de julho de 2014 - 16:35

sucesso fernanda!

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Mit 24 de julho de 2014 - 15:29

Fernanda,

Estou confusa, fui eu quem escreveu esse post? 😉
Não é a volta ao mundo que eu estou fazendo, mas vai fazer 1 ano que estou em Vancouver estudando inglês (comecei no basic) e eu nem voltei pro Brasil e já estou sofrendo. É muito fácil amar essa cidade e todas essas pessoas que conheci aqui.
Mas sabe, se não fosse por ser funcionária pública e ter essa estabilidade eu não estaria aqui hoje. E talvez eu não estaria pensando numa viagem around the world.
Quem não nasceu abastado tem que investir antes. Como dizem os Canadenses “That’s the way the cookies crumble”.
Me identifico com sua personalidade, vc escreve quase exatamente o que eu escreveria.
Esse negócio de “não viver” pra poder viajar faço com excelência.
Talvez eu tenha que mudar, talvez eu tenha que viver um pouquinho mais e… viajar menos? ixi!!!
Doeu só de pensar nisso. Dói mais do que não viver.

Mas… A gente vai levando.

” Mesmo com o nada feito
Com a sala escura
Com um nó no peito
Com a cara dura
Não tem mais jeito
A gente não tem cura

Mesmo com o todavia
Com todo dia
Com todo ia
Todo não ia
A gente vai levando
A gente vai levando
Vai levando
Vai levando essa guia”

“Força na peruca”, garota!
Bjão

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Fernanda 25 de julho de 2014 - 18:22

Viajar menos é a mesma coisa que falar – vamos diminuir o ar que você respira?

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Natana 25 de julho de 2014 - 06:15

“eu sei a dor que a falta de viagens causa na minha vida”
Se serve de consolo voce nao é a unica a sentir isso. Espero que essa angustia diminua, mas se nao, que voce consiga voltar a viajar o mais rapido possível 🙂
Adorei o texto!

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Fernanda 25 de julho de 2014 - 18:19

Tomara viu?

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Rafaela 31 de julho de 2014 - 12:15

Eu cresci viajando com a minha família pelo Brasil, mas, atualmente, a dificuldade em conciliar o nosso tempo livre e as questões financeiras dificultam novos roteiros. Ainda assim, tento fazer viagens curtinhas bem econômicas, pra não perder o costume de viajar. 😀 Enquanto não posso fazer as viagens dos sonhos, me divirto relembrando as viagens antigas e planejando os roteiros das novas (mesmo sabendo que talvez demorem pra acontecer de verdade). (Acho que, quando for planejar pra valer, já terei tudo em mente, de tanto viajar “de faz de conta”! hahahaha). Agora outro dia foi tenso, as passagens estavam com preços MUITO promocionais! Fiquei um pouco angustiada de não poder comprar nenhuma delas! hahahaha

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Fernanda 31 de julho de 2014 - 21:16

Parei de seguir momentaneamente o Melhores Destinos para não surtar.

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Priscilla 31 de julho de 2014 - 16:56

Oi Fernanda! Leio seu blog há anos, mas essa é a primeira vez que escrevo. Estou passando por um momento semelhante. Sou funcionária pública (também não ainda no lugar que eu almejava), e estou saturada da rotina, da vida presa, da mesmice dos dias, quero muito romper com essa vida que socialmente é a esperada para mim e ter forças para sair conhecendo o mundo e a mim mesma melhor…me inspiro muito nas suas viagens e na sua coragem de ser fiel a quem você é, de buscar realizar seus sonhos…
Estou amadurecendo a ideia de também sair em uma volta ao mundo, tirar um ano sabático e quem sabe nunca mais voltar.
Obrigada por partilhar conosco sua vida,
Abraços.

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Fernanda 31 de julho de 2014 - 21:15

Que coisa né, Priscilla? A gente estuda tanto para ter exatamente isso que você descreveu. Que você decida o que for melhor para você e seja muito feliz.

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marcello 4 de agosto de 2014 - 09:44

A síndrome pos viagem é algo muito tenso mesmo, ja passei por isso e vários amigos tbm passaram. Hj to com 40. Sai do BR aos 25 e fiquei 12 anos fora. Confesso, q se tivesse vinte e poucos anos hj eu iria embora e nunca mais voltava pra esse pais. Cada dia isso aqui ta pior. O pais eh lindo mas as pessoas q aqui vivem fazem dele um péssimo lugar, infelizmente…

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RICARDO 19 de agosto de 2014 - 16:28

Oi! Marcello
Qual o motivo que fez c/ que vc voltasse a viver no Brasil, depois de estar 12 anos fora.
Se não é feliz aqui por que não vai embora, não faça da sua idade um limitador para ser feliz, felicidade não tem idade.

Ricardo

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Adri 4 de agosto de 2014 - 10:50

Fernanda boa sorte.
Bem vinda a esse barco da rotina cotidiana: trabalhar e ficar com tempo restrito para viajar.
Mas vc vai encontrar tua fórmula, acredite.
Eu achei a minha: costumo dizer que sou uma viajante que precisa parar e trabalhar para prosseguir viagem…

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Fernanda 4 de agosto de 2014 - 17:26

Tomara que eu encontre mesmo o caminho.

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Mit 6 de agosto de 2014 - 19:37

Gosto dessa maneira de pensar, Adri. 🙂
Estou juntando mantras para voltar a remar no “barco da rotina”.

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Eunice Ventura 9 de agosto de 2014 - 20:01

Estou lendo e conhecendo seu blog hoje. Estou com 52 anos,trabalhei para ter uma casa, depois para os estudos do filho, depois para reforma da casa, depois para renovar os móveis… Aos 40 anos parei de sonhar com lugares e comecei a viajar pelo Brasil (no econômico). Quando fiz 50 anos, me deixei seduzir pelo meu filho e fui com ele passar uma semana em NY, voltei louca encubada, economizando escondido para realizar o sonho de ir na Itália. Julho-2014 a família maluca foi Roma, Assis, Florença,Veneza, Paris e Lisboa. Fazendo do limão, uma limonada, com bateria carregada para o próximo projeto, nem que seja de novo em 2 anos, mas, é o sonho de viajar!(e coragem para realizar), que me motiva, é uma alavanca, a força que preciso para minimizar a chatice do cotidiano, de viver num lugar que não melhora. O que mais gosto quando viajamos? Andar a pé,rir bastante, contemplar a natureza e contato com outras pessoas e culturas. Adorei seu blog.BJS

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Fernanda 9 de agosto de 2014 - 20:15

uau, Eunice! Que história motivadora. Adorei!

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