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Tour pela Robben Island, cenário de horror e perdão

por Fernanda
Painel da liberdade na Robben Island

Sempre gostei muito de História e tive fascínio pelas “injustiças” do mundo. Holocausto, genocídios, intolerâncias, e por aí vai. E a África do Sul tem um passado recente de muita injustiça. Um regime chamado Apartheid. Triste, cruel, revoltante e a Robben Island retrata uma parte do que foi tudo isso.

Apartheid

O Apartheid durou 46 anos. O regime dividia os habitantes em grupos raciais, segregando inclusive as áreas residenciais. Os brancos tinham direito a tudo do bom e do melhor e os negros, bom, os negros não tinham acesso a quase nada. Vários direitos básicos foram privados dos negros, nos âmbitos sociais, econômicos e políticos.

Negro não era gente e o mais irônico é que eles sempre foram maioria na África do Sul. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que esse regime causou muita revolta e até hoje deixa sequelas na população. O Apartheid teve fim em 1994, ou seja, ainda é muito recente. Visitei a África do Sul no final de 2010 e é fácil enxergar as marcas que o Apartheid deixou no país. O desemprego é grande. Estima-se que 25% da população esteja desempregada. O preconceito ainda existe. Tudo bem que hoje é de forma velada, mas notamos em vários restaurantes que os brancos faziam questão de conversar em Afrikaans para que os funcionários negros não pudessem entender a conversa. A África do Sul possui diversos idiomas oficiais, entre eles o inglês, mas o Afrikaans era ensinado apenas nas escolas dos brancos.

Para quem quiser entender um pouco mais sobre o assunto de maneira “leve”, indico o ótimo filme Invictus. Bom, fiz questão de contar um pouco desse passado trágico do país, para começar a mencionar a Robben Island, uma das partes que mais gostei do país.

Robben Island

A Robben Island foi usada durante vários anos como prisão. Nelson Mandela ficou preso 18 anos lá. A ilha fica a apenas meia-hora de Cape Town e você tem que pegar um ferry em Waterfront. Quando você desce do ferry, é direcionado para os ônibus, que fazem o tour pela ilha. O guia então explica como era o funcionamento da ilha na época que ela funcionava como prisão.

Painel da liberdade na Robben Island

O painel da liberdade. Segundo o nosso guia (ex-prisioneiro), a única pessoa que não está feliz na foto é o guarda (branco), porque perdeu o emprego

 

Robben Island

A linda ilha chamada Robben Island

Depois, você faz um tour na parte interior da prisão e os guias são ex-presidiários. É de sentir frio na espinha, porque você escuta a história de quem realmente viveu aquela história.

É um daqueles lugares que não dá para sorrir na foto e confesso que me segurei para não chorar. Se alguém já viu o filme Invictus tem uma hora que o Matt Damon fala – “não sei como alguém pode passar anos numa cela tão apertada e sair disposto a perdoar quem o colocou ali dentro?” Esse é o Mandela, alguém que eu já era fã antes de conhecer Robben Island e me tornei muito mais fã, quando vi “ao vivo”, o que ele passou. Se todos os políticos fossem que nem Nelson Mandela, o mundo seria um lugar melhor e definitivamente mais justo.

Robben Island

As celas minúsculas dos prisioneiros (a do Mandela era igual)

Robben Island

Ex-prisioneiro nos contando que os negros tinham uma dieta diferenciada na ilha (com menos comida que os demais prisioneiros)

Gostei muito da Robben Island não só pela importância histórica e a lição que ela deixa para a humanidade, mas também porque ela me toca de maneira pessoal. Não conheço ninguém que foi prisioneiro na ilha ou pessoas que viveram o Apartheid, mas o preconceito contra negros me afeta muito.

Uma das minhas bisavós paterna era negra. Pode parecer um parentesco longínquo, mas é quase tão longe quanto meu parentesco italiano. Eu era muito nova quando minha bisa morreu e infelizmente não pude escutar as histórias dela e de seus pais que, com certeza, em algum momento da vida também sofreram o preconceito.

Acho que a Robben Island, Nelson Mandela e a África do Sul deixam algumas lições para o mundo, entre elas que cor da pele não faz ninguém ser melhor do que ninguém e que o perdão é difícil e doloroso, mas não é impossível.

E após todas as lições que aprendi com a Robben Island, no final, quando estávamos indo embora, aprendi a maior de todas. Li a seguinte frase em um ônibus: “A viagem nunca é longa quando a liberdade é o destino”.

 

Importante

O passeio custa 230 rands. Os tickets podem ser comprados no V&A Waterfront (no Nelson Mandela Gateway) ou pela internet. Mas às vezes o ferry não sai devido as condições climáticas. O tour dura umas 3 horas. Existem 4 horários para pegar o ferry: 09h00, 11h00, 13h00 e 15h00. Fui no último horário e depois aproveitei para jantar na região de Waterfront, que é muito legal e tem vários restaurantes.

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2 comentários

Bruna Laura 21 de fevereiro de 2014 - 13:47

Fernanda que blog fantástico…está me ajudando muito a planejar o intercâmbio que vou fazer para lá em setembro!

Obrigada por compartilhar sua experiência..isso é demais.

Parabéns!

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Fernanda 21 de fevereiro de 2014 - 14:22

Obrigada pelo carinho, Bruna.

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